Volto a tratar do assunto do envelhecimento.
As Televisões atuais, com alta definição de imagem, expõem o dilema de muitas atrizes e atores. As rugas aparecem como nunca. Porém, bem mais feios que as rugas são os efeitos da toxina botulínica que procuram escondê-las. A pele fica parecendo um pergaminho, com dobras esquisitas e expressões pobres. Penso que o trabalho dos maquiadores deva estar ficando cada vez mais desafiador.
Mas a vaidade convoca o desejo de se evitar os efeitos do envelhecimento. O avanço da Medicina nesta área tem sido enorme. Estamos vivendo mais e com melhor qualidade de vida. E o arsenal de procedimentos médicos para combater o envelhecimento é crescente.
Quanto mais a ciência desvenda os mecanismos do envelhecimento, mais propicia a criação de estratégias para combatê-lo. Até que ponto estas estratégias devam ser utilizadas na prática médica será sempre uma questão de bom senso.
Lembro-me de Descartes ao comentar sobre o bom senso, que em sua opinião é o atributo humano mais bem distribuído. Com ironia, Descartes dizia que ninguém pensa que precisa mais do que o bom senso que já tem.
Entretanto, penso que, sem ironia, o atributo humano mais universal não seja o bom senso, mas a vaidade. A luta contra o envelhecimento é apenas uma de suas facetas.
Além de alimentar a fabulosa indústria de cosméticos a vaidade tem estimulado a procura por tratamentos médicos contra o envelhecimento. Na esteira desta demanda recente, muitos médicos, de diversas especialidades, se embrenham no ramo da medicina anti-aging.
E é justamente esta demanda crescente que cria novos problemas médicos de natureza ética, relacionados com os tratamentos oferecidos à população, ávida de novidades, avessa ao envelhecimento natural.
No que diz respeito à pele e seu envelhecimento, os abusos têm sido freqüentes.
Dr. Geraldo Barroso, renomado dermatologista, membro da Academia Mineira de Medicina, adverte:
“Na dermatologia, a procura por medidas contra o envelhecimento cutâneo tem levado ao abandono da dermatologia clínica. A cosmiatria tem atraído jovens médicos, para uma prática enganosa e perniciosa. Temos visto médicos de outras especialidades, não ligadas à dermatologia, praticando procedimentos na área da cosmiatria, sem um conhecimento adequado da pele e dos seus males. Para se praticar qualquer ação médica, seja curativa ou preventiva, é mister que se faça, antes, um diagnóstico e um prognóstico. A desobediência a tais princípios básicos, mesmo nos procedimentos mais simples, fere a ética. Nada tenho contra a cosmiatria e contra as práticas esteticistas, mas elas devem ser orientadas sempre pelo dermatologista”.
Os dois princípios fundamentais que regem a ética médica são os princípios da beneficência e o da não-maleficência: fazer o bem, mas, sobretudo não fazer o mal.
A máxima latina Primum non nocere deve ser o mote de qualquer tratamento médico: em primeiro lugar, não provocar danos. O avanço indiscriminado da cosmiatria tem ferido este princípio ético fundamental. Dr. Geraldo Barroso cita um exemplo:
“Há pouco tempo, uma paciente portadora de púrpura trombocitopênica submeteu-se a uma limpeza de pele que teve a face desfigurada, com equimoses e pequenas cicatrizes (estas definitivas) em consequência das tentativas inadequadas para estancar os sangramentos. Qualquer dermatologista de boa formação teria feito uma anamnese e teria identificado pequeninas manchas purpúricas indicativas de um transtorno sanguíneo que teria de ser pesquisado”.
Se a vaidade elege o envelhecimento como inimigo a ser combatido, seria prudente convocar o bom senso como seu aliado.
Revisão e formatação
Ophicina de arte & Prosa
Se seu sonho é escrever, nosso negócio é publicar.
Posted by
Jair Raso
0
comentários
»