Por ocasião da morte do Presidente da Venezuela, Hugo Chaves, circulou na internet uma mensagem provocadora dizendo que se ao invés de ter sido tratado em Cuba ele tivesse sob os cuidados de determinados hospitais e médicos de São Paulo, o líder venezuelano ainda estaria vivo.
Algum tempo antes, fui a um velório de um amigo e ouvi de uma senhora que a morte dele aconteceu porque ele havia se entregado à doença. “Com a moderna medicina de hoje”, concluiu ela, “ninguém morre assim à toa”.
Nós médicos às vezes somos cobrados por resultados desfavoráveis de procedimentos, como se fossemos os grandes culpados pelo insucesso de determinados tratamentos.
Com o avanço da Medicina e, sobretudo com a possibilidade de maior acesso aos serviços de saúde cresceu muito a expectativa quantos aos resultados.
Medicina, entretanto, é profissão de meio, não de fim. O Médico se obriga a oferecer todos os meios que estão ao seu alcance em busca dos princípios básicos da bioética: a beneficência e não maleficência. Em outras palavras, o bom médico sempre procura fazer o melhor para seu paciente.
Na mesma direção, os Hospitais modernos se qualificam cada vez mais investindo em tecnologias e processos que aumentam a segurança dos serviços médicos ali prestados.
Entretanto, nenhum procedimento médico é isento de risco. Além disso, por mais avançada que seja nossa Medicina, ainda somos limitados no tratamento de diversas doenças. O câncer de Hugo Chaves é um exemplo: Não conhecemos pormenores da evolução da doença que o matou. Sobretudo desconhecemos as complicações cirúrgicas que ocorreram. O que sabemos é que se tratava de uma neoplasia maligna abdominal com metástases. A história natural deste tipo de doença não é boa, independente do local onde ele foi tratado. Os procedimentos a que ele foi submetido são de alto risco e a possibilidade de insucesso e morte deveria ser sempre considerada.
Também não dominamos fatores múltiplos que interferem no resultado final do tratamento de nossos pacientes. Fatores próprios de cada paciente também interferem no sucesso ou insucesso de qualquer procedimento médico. Por exemplo, uma cirurgia em um paciente obeso, diabético e fumante tem risco bem mais elevado do que o mesmo procedimento em um paciente da mesma idade sem estas comorbidades.
Nunca é demais lembrar que médicos não são Deuses para antever sem equívoco o desfecho de suas ações, por mais preparados e qualificados que sejam.
Quanto aos Hospitais, o fato de terem certificados de qualidade não os transforma no Olimpo. Dependem de recursos humanos, dentre eles o próprio médico e travam luta constante para manter indicadores, como taxas de infecções e de eventos adversos dentro de padrões aceitáveis. A busca pela qualidade no atendimento não tem fim.
A informação sobre assuntos da Medicina está aí ao alcance de todos. Entretanto, o exercício da Medicina exige bem mais que o simples acesso ao conhecimento.
A imagem de um médico moderno como um técnico preparado, seguindo rígidos protocolos que o tornam infalível é tanto equivocada quanto perigosa.
Afinal, a Medicina é morada do humano. Mais que qualquer outra profissão alia o apreço e busca pelo conhecimento e cultura, com o exercício do apuro técnico e da compaixão.
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Jair Raso
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