Nós, mineiros, já não somos
mineradores. Deixamos de cavoucar a terra em busca de fortuna, pois aprendemos que é o mesmo que abrir o
ventre da galinha de ovos de ouro.
As montanhas perdemos todos, enquanto poucos, muito poucos
se empanturram de moeda.
Macacos, Mariana, Brumadinho.
Cinco vidas, dezenove vidas, quatrocentas vidas. As primeiras cinco já foram
esquecidas. Com o tempo todas serão.
O espetáculo macabro da
destruição se mistura à dor de quem perdeu um parente, um amigo, um pedaço de
sua vida, de sua história.
Enquanto isso, busca-se um ou
dois nomes para assumir a culpa que é de muitos. Haja grade para tantos
responsáveis.
A natureza, expulsa pela mão
irresponsável de quem a maltrata, se adapta. Regurgita aqui e ali, desmorona,
sopra tufões e embala tsunamis. Depois se acalma. Indiferente, torna-se um
pouco mais inóspita a cada giro em torno do sol.
Nós, mineiros, já não somos
mineradores, aprendemos que o diamante virou ouro, que virou aço, que virou
ferro e hoje é lama.
Agora, não bastassem as
tragédias consumadas, em nome de falso
comprometimento com segurança,
soam sirenes, esvaziam comunidades, bloqueiam rodovias.
Qual é o real risco? A
desinformação é tanta que o recado é claro: nunca se priorizou a segurança das
comunidades no entorno do cavouco. Vidas
em risco e impactos ambientais não
constam nos balancetes que registraram lucro recorde.
As vidas que valem tão pouco
não ficarão caladas. Nós, mineiros que já não somos mineradores, dizemos não ao vale tudo deste capital.
E para aqueles que não vivem o
luto, viva o carnaval no país do futebol!
Revisão e formatação:
Ophicina de Arte & Prosa
Posted by
Jair Raso
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