Os substitutos sensoriais são
bons representantes dos maiores avanços da ciência e tecnologia aplicadas à
Medicina.
Um exemplo é o implante
coclear, indicado para restituir a audição em pessoas cuja surdez é devida a
disfunção grave do órgão receptor auditivo, localizado na orelha interna, a
cóclea.
Há dois momentos distintos na
captação dos estímulos sonoros: Primeiro,
as ondas sonoras são transmitidas desde a orelha externa, membrana timpânica e
ossículos da orelha média até a cóclea. No
segundo momento, células ciliadas da cóclea convertem a energia mecânica das
ondas sonoras em sinais elétricos, que serão conduzidos até o cérebro pelo
nervo auditivo.
Portanto, há dois tipos de
surdez: A mais comum é a surdez de condução, quando a transmissão da orelha externa
está prejudicada. Esse tipo de surdez pode ser contornado com uso de aparelhos
auditivos.
O outro tipo de surdez,
chamada neurosensorial, é devida a lesão dos receptores auditivos na orelha
interna. O uso de aparelho auditivo nesse caso não resolve o problema, uma vez que
as ondas sonoras não serão convertidas em sinais elétricos, única forma que o
cérebro utiliza para processar o estímulo sonoro.
Apesar de pesquisas
demonstrarem ser possível estimular diretamente a cóclea, não havia tratamento
para a surdez neurosensorial, até o final da década de 1970 Foi o avanço dessas
pesquisas e o concurso de múltiplos especialistas de diversas áreas que tornou
possível o desenvolvimento do implante coclear.
A primeira cirurgia de
implante coclear foi realizada por um otorrinolaringologista australiano,
Graeme Clark, em 1978.
Como funciona? Através de uma
cirurgia na porção mastoide do osso temporal, atrás da orelha, um microeletrodo
é inserido dentro da cóclea. A cóclea parece um caracol e os eletrodos
distribuem as diversas tonalidades de sons ao longo de sua extensão. Esse microeletrodo
é conectado a um processador auditivo, implantado sob a pele, abaixo da incisão
cirúrgica. Por sua vez, esse processador capta os sons de
um microfone colocado atrás da orelha, semelhante aos aparelhos auditivos
externos. Assim é possível transformar os sons em estímulos elétricos que são
captados diretamente pelo nervo auditivo.
Inicialmente, o cérebro tem
dificuldades para interpretar esses novos estímulos sonoros. Com o tempo e treinamento
os estímulos transmitidos pelos microeletrodos passam
a ser interpretados pelo córtex auditivo, restaurando-se assim a capacidade de se
ouvir e escutar.
I
Isto só é possível graças a grande
plasticidade de nosso cérebro. Diante de um estímulo novo, diferente, nosso
cérebro é capaz de alterar sua estrutura de conexões para interpretá-lo.
O feito extraordinário do
engenho humano coletivo criou o implante coclear e, ao mesmo tempo, escancarou
as portas da neurociência para o surpreendente mundo da plasticidade cerebral.