Atuação

• Coordenador do Serviço de Neurocirurgia e Neurologia do Hospital Unimed BH • Neurocirurgião do Biocor Instituto, Belo Horizonte, MG Membro Titular da Academia Mineira de Medicina • Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia • Membro do Congresso of Neurological Surgeons • Mestrado e Doutorado em Cirurgia pela UFMG

Especialidades

• Malformação • Artério Venosa • Aneurisma Cerebral • Cirurgia de Bypass • Revascularização Cerebral • Cirurgia de Carótida • Tumores Cerebrais • Descompressão Neurovascular • Doença de Moya-Moya Tumores da Base do Crânio Doppler Transcraniano

Contato

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Boxe, UFC e rinha de galos


Quando eu era residente de neurocirurgia, uma série de estudos mudou os paradigmas de diagnóstico e tratamento do  traumatismo crânio-encefálico.

Grande parte desses estudos foi feita em animais, mas os mais impressionantes foram aqueles realizados por meio da observação de video-tapes dos nocautes nas lutas de boxe. O movimento da cabeça em cada golpe determina a gravidade da lesão no cérebro. Para que o boxeador vá a nocaute, ou seja, para que entre em coma, é necessário que o golpe sofrido faça um mecanismo de torção em seu pescoço, o que fará com que seus neurônios percam momentaneamente grande parte de suas conexões com o corpo.

Estes estudos esclareceram os conceitos de lesão axonal difusa, amnésia lacunar e do coma de origem traumática.

Quando um lutador é nocauteado, ele sofre uma lesão axonal difusa, que pode ser fisiológica ou anatômica. Estas últimas podem deixar danos irreversíveis.

A amnésia lacunar é a perda da capacidade de se lembrar de eventos que sucederam o traumatismo. Houve casos de lutadores que não se lembravam de um ou dois rounds numa sequência de luta em que caíram, mas conseguiram se recuperar. Um lutador sequer se lembrava se havia ganhado ou perdido determinada luta.

Em longo prazo, traumas repetidos no encéfalo podem provocar demência ou outros tipos de doença, como a Doença de Parkinson. Muhammad Ali, uma legenda deste esporte, é um dos exemplos.

O UFC, verdadeiro vale-tudo, é uma versão mais popular do boxe. Mas os mecanismos de agressão ao cérebro são os mesmos. Recentemente, um jogador morreu após ser nocauteado. Sequelas definitivas em seus praticantes também não são incomuns. Apesar disso, as lutas são anunciadas com estardalhaço e assistidas por milhões de pessoas, garantindo os investimentos milionários  neste tipo de esporte.

Neste aspecto, os animais estão mais bem protegidos.

A Declaração Universal dos Direitos dos Animais, proclamada em 1978 pela UNESCO, abomina toda forma de maus tratos de animais para divertimento dos homens. 

No Brasil, um exemplo é a rinha de galo. Desde o Governo de Jânio Quadros, as rinhas foram proibidas e até  hoje são caso de polícia.

Os trabalhos sobre traumatismo crânio-encefálico tendo animais como modelos praticamente desapareceram.

Está passando da hora da Declaração Universal dos Direitos Humanos fazer algo semelhante a estes estúpidos esportes, como o Boxe e o UFC.

Boxe ou UFC são versões de verdadeiras roletas russas.

Sugiro que vejam o filme 13 Tzameti, do diretor Gela Babluani, ou seu remake, Roleta Russa 13. Neste filme de suspense, apostadores arriscam grandes somas num jogo de roleta russa. A cada rodada, as apostas vão aumentando, e só há um vencedor: aquele que apostou no único sobrevivente.

Qual a é diferença entre estes e as rinhas de galo? Talvez o montante do valor apostado. Ou o falso glamour das redes de TV em torno dos lutadores.  

Boxe e UFC deveriam servir de inspiração para roteiros de filmes de ficção, mas definitivamente não deveriam fazer parte do que consideramos esporte. Afinal, esporte geralmente é atividade relacionada à saúde e não à doença.

Não há nada de saúde quando dois marmanjos se atracam, trocam pontapés e socos até que o cérebro de um deles seja gravemente lesado para o que outro seja considerado vencedor. Ao fim e ao cabo, todos praticantes saem perdendo.


 Revisão e formatação: Ophicina de Arte e Prosa


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Posted by Jair Raso 0 comentários »