Com o
decreto pró-armas assinado pelo novo Presidente, está garantida a continuação
do filme de bang-bang que estamos
assistindo há muitos anos.
Com a desculpa de que o xerife
não está dando conta dos bandidos, agora os mocinhos e moçoilas poderão ter sua
arma.
Como ocorre nos roteiros dos
filmes de Hollywood, o efeito não será diferente no Brasil: mais tiros, mais
vítimas. O problema é que, pelo menos em Hollywood, o final do filme costuma
ser feliz, com o bem vencendo o mal. Por aqui, a temporada de violência parece
estar ainda nos primeiros capítulos.
A facilitação de posse de arma
pode até dar uma sensação de falsa segurança. Mas, com o perdão do trocadilho,
na vida real, com o porte de arma, o tiro pode sair pela culatra.
Especialistas em segurança
sempre ensinaram que, diante de um assalto à mão armada, o melhor a fazer é não
reagir. Na gíria dos bandidos, é aceitar o “perdeu, playboy”.
Nunca é demais lembrar que,
nessas situações, você está em desvantagem. Mesmo que possua uma arma, ela não
está em sua mão, no momento do assalto. E mesmo que esteja, convenhamos que se
o bandido for bom, ele deve ter a mira muito melhor do que a sua. Afinal, essa
é a ferramenta de trabalho dele, não a sua.
Por outro lado, sabendo que a
população agora pode estar com mais munição, os bandidos também decidirão pelo
menos duas coisas em seu próximo congresso: 1. oba, temos mais fontes de armas;
2. Se houver reação, atire primeiro.
Voltando aos filmes de bang-bang, fico imaginando as cenas de
duelo com uma diferença: o bandido já estará com a arma apontada para o coração
do mocinho, que terá a difícil tarefa de sacar seu trabuco, mirar e atirar.
Vejo com preocupação os
acidentes com arma de fogo que fazem vítimas todos os anos. Sem contar os
índices já alarmantes de suicídios.
Os defensores dirão que as
armas estarão trancadas em cofres. Desejo boa sorte na tarefa de lembrar o
segredo no stress de um assalto. Mais sorte ainda, se for abrir o cofre com a
arma apontada para sua cabeça. O bandido já deve saber que lá dentro você não
guarda só dinheiro.
Armar nossa população, que já
se mostrou intolerante até em situações banais, é colocar mais lenha numa
fogueira que vem queimando vidas de maneira tão estúpida quanto nas guerras.
Nossas ruas estarão ainda mais
tingidas de sangue. Se a promessa do presidente era de retirar a cor vermelha
do Brasil, com esse decreto ele deu um tiro no pé.
Revisão e formatação:
Ophicina de Arte & Prosa
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