Para prescrever qualquer tratamento, o médico suspeita
de um diagnóstico depois de ouvir e examinar seu paciente. Se um médico erra o
diagnóstico, não é difícil prever que o tratamento também será equivocado.
Há condições clínicas de difícil diagnóstico. Um exemplo
é a Febre de Origem Obscura. O próprio nome indica que o médico tem dificuldade
de diagnosticar a causa da febre que pode ser uma infecção, um tumor ou uma rara
doença do colágeno, por exemplo. Com a ajuda de diferentes especialistas que conduzem
exames simples ou sofisticados, a causa da febre geralmente é descoberta, e o tratamento
adequado é instituído.
No caso da saúde brasileira, o problema é mais grave. Nossa
presidente, médica de plantão, não soube ouvir o grito de dor do povo, manifesto nas ruas, e fez um diagnóstico errado: precisamos
de mais médicos. De modo açodado, prescreveu um tratamento empírico: "vamos
importar milhares de médicos".
A febre popular aumentou. Afinal, o medico-cidadão não
poderia, por dever de ofício, calar-se diante deste equívoco e engrossou a voz das
ruas.
Médico despreparado é charlatão. O charlatão costuma empregar
tratamentos sem embasamento científico. Importar milhares de médicos é emplastro
para tratar febre de origem obscura.
Percebendo a ineficácia
óbvia do tratamento anterior, em menos de uma semana, outro tratamento foi prescrito,
como os antigos vomitórios para desarranjos intestinais: vamos aumentar o curso
de medicina para oito anos.
O arsenal que compõe a panaceia do governo parece inesgotável.
Além de não serem capazes de fazer o diagnóstico correto
do porquê a saúde no Brasil vai mal, como charlatães prescrevem soluções equivocadas
e deverão, em longo prazo, criar problemas maiores.
Em crônicas anteriores, chamei a atenção para "a caneta
que mata". No isolamento de seus gabinetes em Brasília, gestores de saúde de
competência duvidosa vêm dilapidando com decretos o que resta da saúde pública brasileira.
A voz do povo nas ruas serviu para que o cenário que eu
denunciava se escancarasse ainda mais. A competência destes gestores não é duvidosa.
É certo o despreparo, o destempero, a arrogância e inconsequência.
Poderíamos perdoar um político por não entender de todos
os assuntos com os quais é obrigado a lidar. Mas é imperdoável que esse político
não tenha a perspicácia e sensibilidade para perceber que está cercado de assessores
incompetentes.
Os diagnósticos e soluções para os outros grandes problemas
que o povo espontaneamente denunciou também estão sendo questionados. Mas na saúde
pública brasileira já não resta mais dúvidas. Estamos nas mãos de um governo charlatão
prescrevendo panaceias.
Revisão e formatação: Ophicina de Arte e Prosa
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Crônica médica