É
possível retirar a cabeça de uma pessoa viva e transplantá-la num corpo
diagnosticado com morte encefálica?
Não.
Entretanto,
um médico italiano, Sergio Canavero, ganhou notoriedade em todo o mundo ao
propor ser possível um transplante de cabeça nos próximos anos.
É
lamentável ver representantes da ciência buscar holofotes para anunciar
procedimentos sem respaldo científico e ético.
Esse
charlatão italiano pelo menos admite que lhe falta um hospital, um grupo de
outros médicos auxiliares e dinheiro para realizar tal façanha. Mas, na
verdade, falta-lhe muito mais do que isso. Se encontrasse companheiros
lunáticos que o ajudassem nessa empreitada e um hospital picareta, certamente
lhe faltariam recursos técnicos para realizar tal transplante com sucesso. Mais
ainda, falta a esse médico irresponsável postura ética mínima para lidar com o
sofrimento das pessoas.
Se
o Dr. Frankenstein italiano soubesse, por exemplo, como conectar a medula
espinhal, que faz a principal comunicação do cérebro com o corpo, ele estaria
sonegando esse conhecimento a milhares de doentes em todo mundo. Afinal,
tetraplégicos vítimas de acidentes deveriam estar merecendo a atenção desse
médico que promete cura para estas lesões, o que a ciência médica não tem ainda
capacidade para realizar.
Mas
quando se pensa no transplante de cabeça não é só a medula espinhal a ser
considerada. As artérias que irrigam o cérebro deveriam ser também emendadas. O
problema é que a ligadura de apenas uma das artérias que irrigam o cérebro por
poucos minutos pode provocar derrame ou mesmo a morte. No caso, ele deveria
suturar quatro artérias, duas delas de calibre pequeno e dificílima exposição
cirúrgica.
Faltariam
ainda alguns nervos que fazem conexão diretamente com o cérebro, sem passar
pela medula. Sem falar na sutura de músculos e na fixação da parte óssea.
Some-se
a isso o fato de que os impulsos vindos do corpo de qualquer pessoa fazem parte
indelével de sua maneira de pensar e agir. Fosse possível tal transplante, os
novos impulsos inundariam o cérebro com informações do novo corpo, o que
certamente geraria conflitos mentais insolúveis.
Mencionei
dificuldades técnicas hoje intransponíveis. Sequer falei da possível rejeição.
Mesmo com os avanços de transplantes de órgãos como rim, fígado e coração, a
possibilidade de rejeição existe. Um organismo não reconhece como seu um órgão
transplantado e aciona seus mecanismos de defesa para destruí-lo. A quantidade
de medicamentos que deveriam ser utilizados para evitar rejeição desse
magnífico transplante provocaria danos incompatíveis com a sobrevivência.
Um
procedimento cirúrgico dessa monta levaria horas, e o resultado é mais do que
previsível. O cérebro transplantado no novo corpo teria mínimas chances de
funcionar. E o corpo transplantado perderia um encéfalo morto para ganhar
outro.
A
ideia de se transplantarem cabeças pode até fascinar roteiristas de ficção, mas
não passa de ficção mesmo.
Esse
cirurgião italiano não representa o que há de avançado e moderno em medicina e
ciência. Ele é legítimo representante de prática médica que procuramos superar:
a medicina sem evidências e sem ética.
Antes
de se arvorar sobre a cabeça de possíveis vítimas, o pirado médico italiano
deveria buscar ajuda psiquiátrica para tratar da sua.
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Categories:
Crônica médica