A postura do governador do Estado de São Paulo, João Dória, em relação à vacina contra o Corona-vírus representa um manancial de reflexões sobre a saúde pública.
Sem entrar nos óbvios
interesses eleitoreiros da atitude do governador paulista, sua atitude serviu,
pelo menos, para uma coisa: acordar o governo do sono paralisante que o
acometeu, desde o início da pandemia. Sono repleto de devaneios sobre o tamanho
da gripezinha e de pesadelos repetidos à medida que o número de mortos avançava.
Entra na pauta do governo,
finalmente, a prioridade para entregar ao país um plano nacional de vacinação.
E está bem na hora, pois a
liberação das vacinas já se encontra ali na esquina, como costumam dizer os
pesquisadores na área de saúde.
É imprescindível que o governo
federal assuma o protagonismo nessa campanha de vacinação, para que o Brasil
não perca uma de suas grandes vantagens se comparado até mesmo com países
desenvolvidos: nosso programa de vacinação é muito bem estruturado e bem-sucedido.
A vacinação contra a poliomielite, sarampo, rubéola, tétano e até mesmo a gripe
apresenta exemplos de como é possível cobrir o país inteiro, desde os grandes
centros urbanos com seus postos de saúde até aldeias indígenas, alcançadas por
logística de transporte envolvendo até mesmo as forças armadas.
Para estarmos à frente de
todos na erradicação da pandemia, basta adaptar o programa de vacinação em
massa, gratuito, utilizando a estrutura do Sistema Único de Saúde, aliando
forças com as secretarias estaduais e municipais de saúde para promover a
vacinação em massa.
E para que o sucesso da
campanha de vacinação seja garantido, é preciso despolitizar a questão e
trazê-la para o norte do qual nunca deveria ter se desviado: o princípio ético
da justiça social. Trocando em miúdos, esse princípio garante o acesso de toda
população à política pública de saúde, sem discriminação de status social,
gênero, raça ou local de moradia.
Sei que viveremos nos próximos
dias e meses uma enxurrada de querelas em torno da vacina que promete nos
livrar da pandemia: qual a melhor vacina? Qual será o fornecedor? Quais serão
os grupos prioritários? Ministério da Saúde ou Secretarias Estaduais?
Vaticino que, ao final, o
programa nacional de vacinação sairá vencedor desta disputa. Afinal, é um
programa estruturado ao longo de anos, com ações positivas de governos de
diferentes matizes ideológicos e que conseguiu se estabelecer como exemplo de
boa prática de saúde pública.
Esse patrimônio nacional não
deve, justamente agora, ser negado a todos nós brasileiros.