A
última cortina
Domingo, 18/4/21: dois meses após
completar 90 anos, Wilma Henriques, uma das maiores atrizes do país, deixou o
espetáculo que foi sua vida. A cortina não mais será aberta para que ela receba
os aplausos que tanto merece. Morreu tranquila, num lar para idosos, sem
sofrimento, sozinha, sem plateia.
Nada de Covid, nada de doença
grave. A morte dela foi natural.
O Governo Estadual autorizou a
liberação do Palácio das Artes para que o corpo fosse velado. Certamente, Wilma
seria homenageada por seus colegas de classe. Entretanto, devido aos protocolos
de distanciamento, necessários em tempos de covid, não houve velório.
Wilma foi enterrada no
cemitério do Bonfim, junto à sua família: o pai Jadir, a mãe Esmeralda e a irmã
Geisa. Éramos dez presentes para o
último ato: uma oração feita por um pastor da Igreja Messiânica, da qual ela
fazia parte, um pequeno discurso e aplausos. Saía de cena para sempre a dama do
teatro mineiro.
Para o consolo de todos, Wilma
Henriques foi homenageada no dia de seu aniversário:15 de fevereiro. A classe
artística, capitaneada pela presidente do Sindicato, Magdalena Rodrigues,
compareceu em peso e a live com o
depoimento de vários deles e a participação de Wilma aconteceu no teatro
Feluma. Também devido à covid, no palco duas, três pessoas. Wilma de longe, no
Lar Viver Melhor, ao lado de Carluty Ferreira. Os depoimentos de seus
companheiros de ofício e as reações de Wilma foram emocionantes. Ao final da homenagem foi reapresentado o
programa Ribalta, sobre a carreira de Wilma, dirigido por Papoula Bicalho para
a Rede Minas.
Wilma queria muito este
encontro e ficou muito feliz com sua realização. Gravou uma mensagem de
agradecimento que foi publicada no grupo de WhatsApp criado para a homenagem.
Para Carluty Ferreira, ela
teria dito pouco depois: “meu pai já foi, minha irmã já foi, minha mãe já foi.
O que eu estou fazendo aqui? ”. Fosse há dois anos, eu responderia: você está
fazendo teatro.
Agora não mais. Em sua última
apresentação, em julho de 2019, na peça Espelho, escrita por mim e dirigida por
Magdalena Rodrigues, percebemos que Wilma tinha atingido seu limite físico e
cognitivo.
Se eu fosse o grande diretor
deste espetáculo que se chama vida, eu faria Wilma morrer assim: no palco, ao
final de uma apresentação teatral para seus colegas e fãs.
Pensando bem, foi o que aconteceu,
mas em momentos separados pelo tempo, mas não pela emoção e significados.
Foi uma vida dedicada ao
teatro, sua grande paixão. Na fala de seu último personagem, que não por acaso
se chama Vida, ao som de La Vie en Rose,
sua música predileta, ela recita:
“Eu
queria cantar uma canção de amor.
Do meu amor pelo teatro,
porque o teatro foi o grande amor da minha vida.
Ele me toma em seus
braços, e me fala baixinho:
Sua vida
é cor-de-rosa
Ele é tudo pra mim e
eu sempre fui toda dele.
E assim, nós dois, trocando
juras de amor
numa noite que nunca acaba
Somos um só coração que bate
feliz
Feliz até morrer”
Cai o pano. Mas o brilho da
estrela ficará sempre vivo em nossas memórias.