Atuação

• Coordenador do Serviço de Neurocirurgia e Neurologia do Hospital Unimed BH • Neurocirurgião do Biocor Instituto, Belo Horizonte, MG Membro Titular da Academia Mineira de Medicina • Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia • Membro do Congresso of Neurological Surgeons • Mestrado e Doutorado em Cirurgia pela UFMG

Especialidades

• Malformação • Artério Venosa • Aneurisma Cerebral • Cirurgia de Bypass • Revascularização Cerebral • Cirurgia de Carótida • Tumores Cerebrais • Descompressão Neurovascular • Doença de Moya-Moya Tumores da Base do Crânio Doppler Transcraniano

Contato

Alameda da Serra 400 / 404 - Nova Lima - MG (31)3264-9590 • (31) 3264-9387 jrasomd@yahoo.com.br

A morte da editora

 


 

Há muitos anos recebi de uma cliente um e-mail com o seguinte título “proposta indecorosa”. Ela, editora profissional, tecia comentários sobre as crônicas que eu publicava mensalmente em meu blog e oferecia uma parceria:  faria a revisão das crônicas e eu divulgaria sua empresa, a Ophicina  Arte & Prosa. A proposta nada tinha de indecorosa. Era, na verdade, um grande presente para mim.

Assim começamos uma bela parceria que resultou em centenas de crônicas e três livros meus editados por Rachel Kopit e sua Ophicina: A caneta que mata; Saúde, Vida Longa e Morte Súbita e O dia em que a música acabou.  Também participou da construção do último livro Trilogia de Uma Pandemia, uma coletânea de textos sobre a Covid-19, de autores diversos, organizado por mim e Andrea, minha mulher, e lançado este mês.

Para nossa tristeza, Rachel sofreu um acidente em sua casa e morreu por complicações de um traumatismo craniano.  

Rachel Kopit amava sua profissão e era orgulhosa com seus produtos editoriais. Mantinha a mente e o coração abertos para seu trabalho conosco, aprendizes de escritores.

Mais que sua revisão, sempre rigorosa, eu ficava ávido por ouvir ou ler seus comentários sobre minhas crônicas e, claro, sobre os livros que publicamos.

Sua morte me deixa um vazio enorme. De repente, ficou difícil escrever.

Minha tristeza é maior por ter perdido a amiga, mas quero me debruçar sobre a tristeza de perder a editora. Afinal, nossa história começou com a ameaça à essa profissão que ela tanta amava.

Em 2002, eu a operei de um tumor localizado numa região do crânio que colocava em risco, dentre outros, a motilidade ocular, essencial para seu ofício. Felizmente o procedimento foi bem-sucedido e ela pode dar continuidade à sua brilhante carreira como revisora, editora e tradutora. Com sua autorização, mostrei em diversas aulas seus belos olhos azuis quando queria ensinar um grande preceito ético de nossa profissão médica: primum non nocere.

Karl Ove Knausgard, escritor norueguês, disse que sem seu editor, ele não seria escritor. O artigo dele (Até lá onde a narrativa não chega, Revista Piauí, fevereiro 2021), que li há pouco mais de um mês, lançou luz sobre minha relação, enquanto escritor, com Rachel.

Sempre a considerei generosa, porque assim ela sempre foi.  Mas bem mais que isso, o que Rachel me transmitia era confiança. Um dia, ela confiou em mim, como seu médico. Depois disso, ela fez consolidar em mim a confiança para escrever. Seus comentários, críticas e sugestões passaram a fazer parte natural da minha maneira de escrever.  

Desde sua morte, no último dia 25, minha narrativa ficou manca. Difícil não era escrever sobre ela, mas escrever sem a presença dela em minha escrita.

Finalmente hoje, 30 de maio, criei coragem e me debrucei sobre a importância de Rachel na minha vida de escritor. Para saber o ano de seu nascimento, consultei o prontuário eletrônico de meu consultório e, para minha surpresa, descobri que, justamente hoje, ela estaria completando 69 anos.

Em dias de aniversário a gente pensa em presentes.  Penso que Rachel Kopit foi um presente em minha vida, que guardarei para sempre com muita gratidão.

 

 

 


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