Atuação

• Coordenador do Serviço de Neurocirurgia e Neurologia do Hospital Unimed BH • Neurocirurgião do Biocor Instituto, Belo Horizonte, MG Membro Titular da Academia Mineira de Medicina • Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia • Membro do Congresso of Neurological Surgeons • Mestrado e Doutorado em Cirurgia pela UFMG

Especialidades

• Malformação • Artério Venosa • Aneurisma Cerebral • Cirurgia de Bypass • Revascularização Cerebral • Cirurgia de Carótida • Tumores Cerebrais • Descompressão Neurovascular • Doença de Moya-Moya Tumores da Base do Crânio Doppler Transcraniano

Contato

Alameda da Serra 400 / 404 - Nova Lima - MG (31)3264-9590 • (31) 3264-9387 jrasomd@yahoo.com.br

Adeus Menino

 

A morte de meu tio, o professor doutor Pedro Raso, mobilizou em mim uma mistura de tempos: o tempo de sentir e o tempo de refletir.

Por que afinal demorei mais tempo do que de costume para aceitar a morte dele? Seria natural que não fosse assim. Afinal, estava mais que anunciada a morte de um velho homem que carregava uma mente brilhante em corpo pouco sadio.

Havia muito a celebrar sobre sua vida profissional. Dr. Pedro Raso era catedrático de anatomia patológica, discípulo de Luigi Bogliolo. Foi um professor e pesquisador dedicado, querido por seus alunos. Tal era sua inquietude intelectual que, aos 90 anos, driblando as mazelas de uma degeneração da retina, se debruçou sobre publicações a respeito das manifestações patológicas da Covid-19. Falava com entusiasmo sobre os achados de necropsias realizadas em Milão, que alertavam sobre as alterações vasculares causadas pela infecção. Um mês antes de morrer, participou de uma live organizada pelo Departamento de Anatomia Patológica da USP, onde discorreu sobre sua grande paixão: as manifestações hepáticas da esquistossomose. Também participava ativamente das reuniões semanais, por zoom, da Academia Mineira de Medicina, instituição que ele tanto admirava.

Em torno do tio Pedrinho, como o chamávamos, gravitava uma família amorosa e dedicada. Suas idas e vindas ao hospital serviram de lição para seus netos médicos, Leo e João Pedro. Eles cuidaram do avô com misto adequado de carinho e profissionalismo. Receberam dele uma última lição memorável: como aceitar a morte com serenidade.

Tio Pedrinho fazia hemodiálise três vezes por semana, tratava um diabetes de difícil controle e convivia com doença pulmonar crônica. Ao se infectar pela Covid-19, manifestou seu desejo de não ser intubado, caso fosse necessário. Infelizmente, seria necessário. Ao invés de ser transferido para o CTI, tio Pedrinho pediu a visita de um padre. Católico, queria uma última oração. Não seria fácil conseguir um Padre que fosse ao hospital, justamente na ala isolada para pacientes com Covid. Por fim, a boa alma de um diácono, Dr. Cid Sérgio Ferreira, fez toda a diferença. Esteve ao lado do tio Pedrinho e compartilhou com ele seus últimos momentos de fé. Já prestes a ser sedado, sob uma máscara de oxigênio, tio Pedrinho pediu ao seu filho Eduardo uma caneta e escreveu: “estou em paz”.

E de fato, esteve em paz nos dois últimos dias de sua vida. Morreu tranquilo, sem sofrimento aparente, próximo à data em que completaria 91 anos de vida.

Distanciado um pouco no tempo, eu diria que foi uma morte bonita. Tio Pedrinho teve sabedoria para preparar todos nós, que o amávamos tanto, para esta inevitável despedida.

Então, por que minha dificuldade para aceitar sua morte?

Em seu livro de memórias, O menino que jantava manga, tio Pedrinho narrou o crescimento da criança esperta, que driblava a fome vespertina no quintal de sua casa, ao pé da mangueira. Sem ressentimentos e com orgulho, descreveu sua passagem de uma vida de restrições na infância para uma carreira de sucesso como professor na Medicina.

Para mim, tio Pedrinho nunca deixou de ser aquele menino que jantava manga. Seus olhos brilhavam diante das dificuldades, que eram transformadas em desafios. Era sério e brincalhão e sempre teve um amor contagiante pela vida.

Guardo com carinho e gratidão as lições exemplares que me passou como tio querido, professor na faculdade e padrinho na Academia Mineira de Medicina. Tio Pedrinho cresceu na profissão e na vida chegando à velhice sem nunca deixar de ser criança.

Entendo agora porque foi tão difícil para mim dar adeus a esse espírito de menino.

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