Atuação

• Coordenador do Serviço de Neurocirurgia e Neurologia do Hospital Unimed BH • Neurocirurgião do Biocor Instituto, Belo Horizonte, MG Membro Titular da Academia Mineira de Medicina • Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia • Membro do Congresso of Neurological Surgeons • Mestrado e Doutorado em Cirurgia pela UFMG

Especialidades

• Malformação • Artério Venosa • Aneurisma Cerebral • Cirurgia de Bypass • Revascularização Cerebral • Cirurgia de Carótida • Tumores Cerebrais • Descompressão Neurovascular • Doença de Moya-Moya Tumores da Base do Crânio Doppler Transcraniano

Contato

Alameda da Serra 400 / 404 - Nova Lima - MG (31)3264-9590 • (31) 3264-9387 jrasomd@yahoo.com.br

Sem Fé ou Confiança

 


...todo-o-mundo é louco. O senhor, eu, nós, as pessoas todas. Por isso é que se carece principalmente de religião: para se desendoidecer, desdoidar. Reza é que sara da loucura. No geral. Isso é que é a salvação-da-alma... Muita religião, seu Moço!

Guimarães Rosa

 

Entre tantos descalabros nesta pandemia um dos que mais me impressiona é a realização de festas clandestinas, organizadas e frequentadas por jovens. Sem máscaras, aglomerados, saboreiam seus drinks enquanto o jogo de luz se encarrega de cegá-los para os números crescentes de vítimas da Covid.  O som alto os ensurdece aos apelos da maior parte da sociedade que segue as recomendações das autoridades na esperança de não se contaminar.

O que celebram não sei, mas fica claro que perderam a confiança nos discursos das autoridades médicas, contaminados por interferências políticas.

Vivemos o tempo do achismo e, ao contrário do que disse Le Breton, a palavra do especialista já não é mais evangelho para o leigo, que a desdenha com festas.

O baile sem máscaras parece uma dança de insanos em torno da fogueira da morte.

A epígrafe de Guimarães Rosa talvez nos ajude a compreender esse comportamento, no mínimo imprudente, principalmente quando o lemos sob a perspectiva da história.

Tucídides, considerado um dos pais da ciência histórica por sua imparcialidade, narra em seu livro, História da Guerra do Peloponeso, pormenores da peste que atacou Atenas em 430 aC.

 Além de descrever os sintomas e a alta mortalidade da peste, Tucídides relata o comportamento das pessoas que tornaram-se “menos inibidas na indulgência de prazeres” e, como resultado, haviam decidido “buscar satisfação rápida e prazerosa, reconhecendo que nem a vida nem a saúde iriam durar muito”. A nova honra e o novo valor para os atenienses passaram a ser o prazer imediato. Não os inibiam o medo dos deuses, muito menos as leis humanas. É como se já se sentissem condenados à uma sentença de morte, de modo que o melhor seria “buscar alguma diversão na vida, antes da queda”.

Creio que um sentimento desses deve passar na cabeça de cada um daqueles que pagam ingressos para participar dessas festas.

Em defesa dos atenienses, pelo menos podemos dizer que eles estavam em meio a uma guerra quando foram assolados por um mal inédito, de causa desconhecida, que não selecionava vítimas e contra o qual não havia tratamento.

Não sabemos tudo sobre a Covid-19, mas temos um corpo de informações suficientes para nortear nosso comportamento, essencial para nos livrarmos da pandemia. Entretanto, a pletora de desinformação entorpece a razão e alimenta a angústia.

Nem mesmo a fé é capaz de aplacar o sofrimento. Também pudera, a religiões andam apartadas de sua missão original. Vivem hoje no discurso de políticos vulgares e disputa cargos no governo e bancadas no parlamento.

A pandemia desvelou um mundo de gente carente de fé genuína e de confiança no conhecimento. São pessoas desnorteadas que, ignorando o caminho da igreja ou da academia, foram   dançar no baile da insensatez.

 

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