Atuação

• Coordenador do Serviço de Neurocirurgia e Neurologia do Hospital Unimed BH • Neurocirurgião do Biocor Instituto, Belo Horizonte, MG Membro Titular da Academia Mineira de Medicina • Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia • Membro do Congresso of Neurological Surgeons • Mestrado e Doutorado em Cirurgia pela UFMG

Especialidades

• Malformação • Artério Venosa • Aneurisma Cerebral • Cirurgia de Bypass • Revascularização Cerebral • Cirurgia de Carótida • Tumores Cerebrais • Descompressão Neurovascular • Doença de Moya-Moya Tumores da Base do Crânio Doppler Transcraniano

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Pensamento dogmático ameaça a Liberdade

 


 

A incapacidade de pensar não é estupidez. 

Ela pode ser encontrada em pessoas inteligentíssimas

                                                     Hanna Arendt (1906-1975)

Thinking and moral Considerations

                                                          

 

Em minha publicação de 2 de outubro expliquei como usei a neurofilosofia para minha escolha no segundo turno de nossas eleições. Volto a ela para tentar compreender a reação de familiares queridos, colegas médicos e de tantas pessoas que pletoram as redes sociais com publicações antidemocráticas e ocupam as ruas questionando o resultado das urnas.

Sei de muitas das razões que os levaram a escolher Bolsonaro. Até concordo com algumas delas. Mas sempre que eu questionava sobre os riscos dessa escolha para a democracia recebia críticas ferozes e apaixonadas.

Com a recusa de se admitir a derrota e as manifestações diante dos quartéis pedindo intervenção militar, não há mais como esconder o matiz autoritário e retrógrado desse voto.

Como explicar manifestações a favor de um golpe militar que traria de volta a ditadura? Não conseguem perceber que   livres manifestações amanhã poderão ser amordaçadas?  

Como entender o pensamento de um deputado que recebeu votação expressiva e de outros políticos, quando questionam o método eletrônico das urnas que os elegeram? Será que fraudaram a própria eleição?  

Como pessoas de bem se igualam em voz a quem responde com granadas e tiros de fuzil a uma ordem de prisão? Como parear com um representante do povo que em resposta a um insulto saca uma arma e sai à caça do desafeto? Como pessoas tão inteligentes podem ser tolerantes à exemplos de barbárie?

Hanna Arendt, no mesmo ensaio da epígrafe, atribui a Kant a distinção entre pensamento e conhecimento e nos advertiu: “precisamos da filosofia, o exercício da razão como faculdade do pensamento, para evitarmos o mal”.

A neurociência distingue o pensamento crítico, flexível do pensamento dogmático, cristalizado.

Os questionamentos colocados acima não resistiriam ao pensamento crítico. Entretanto, quando o pensamento dogmático prevalece há uma tendência a se buscar e processar informações que reforcem uma opinião prévia ou a expectativa do sujeito.

Chamo isso de teoria da gaiola, que explica inclusive muitas de nossas crenças. Há um arranjo de circuitos em nosso cérebro que processa as informações de modo a ajustá-las a conceitos familiares e ideias pré-concebidas. Essa forma cristalizada de pensar abre mão de evidências e aceita até notícias falsas, desde que reforcem o circuito engaiolado.

O problema com esse tipo de pensamento é que ele não lida bem com situações incomuns e tem dificuldade de se adaptar a um mundo de constantes mudanças.

No caso em questão, o pensamento enjaulado coloca em risco nossa liberdade. Se por um lado as manifestações pela intervenção militar são exemplos de liberdade de expressão, por outro elas escancaram um paradoxo: hoje sou livre para pedir o golpe, amanhã perco minha liberdade.  

Uma das formas de se combater o pensar dogmático é desprezar o primeiro pensamento, que é rapidamente produzido, pois está contido na gaiola. Pense de novo.  Abra a gaiola e deixe o pensamento sobrevoar sobre outras formas de pensar.

A filosofia é avessa ao pensamento que não questiona.  E como nos lembra Arendt, o pensamento é como o véu de Penélope: ele desfaz pela manhã o que havia sido tecido na noite anterior.

 

 

 

 

 

 

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Armadilhas para um cidadão de bem

 


 

O patriotismo é o último refúgio de um canalha

Samuel Johnson (1709-1784)

 

 

A frase em epígrafe de um dos mais cultuados escritores ingleses, Samuel Johnson, não é crítica ao patriotismo, mas do uso que canalhas fazem dele: explorar esse sentimento como armadilha para angariar interesses espúrios.

Os protestos diante dos quartéis do Exército pedindo a intervenção militar no processo eleitoral brasileiro tem um lado positivo: antes, poderíamos até negar que a escolha de Bolsonaro significaria fazer parte de uma corrente com anseios antidemocráticos. Agora não.

Qualquer cidadão de bem, com mínimo de conhecimento da história, repudia  ditaduras, de qualquer matiz,  

Também é antidemocrático tentar destruir a reputação de nossas Instituições. Todos concordamos que elas não são perfeitas, mas ainda representam um oásis em meio a um deserto de barbárie.

Convoca-se a família como lema de campanha como se não fossem legítimas outras formas de família, para além da tradicional. O que se ensina em uma boa família são princípios de ética, respeito, tolerância e convívio social. E a forma mais eficaz, que alguns consideram até única, é o exemplo. Propagar o ódio e a violência, no discurso e nas ações, está na direção oposta aos ensinamentos que devem ser difundidos dentro de uma verdadeira família.

Ética, respeito e tolerância também se aplicam à religião. Respeitar o Deus de cada um é apenas um primeiro passo. Religião sem ética é fé desvairada, praticada por aqueles que ao longo do caminho esqueceram-se da razão de se caminhar.    Não há nada de religioso em produzir e sistematicamente difundir falsas notícias, atacando a reputação de pessoas e Instituições. Como nos lembra João, versículo 8: 2- "E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará".

Tivemos oportunidade de abandonar a polarização política, cujo único mote é apontar os inúmeros defeitos da extremidade oposta. Infelizmente, nosso sistema democrático nos obrigou a escolher um entre dois representantes desses extremos, que entre inúmeros outros desvios não podem convocar a honestidade como virtude.

Mas o momento dessa disputa já passou. É hora de baixar as armas e devolver nossa bandeira, que afinal pertence a todos nós brasileiros.

Quem sabe possamos juntos, envoltos no manto de um patriotismo verdadeiro, fiscalizar as ações desse novo governo que tem pelo menos um compromisso realizável: manter nossa democracia e nossa liberdade para criticar.

 

 

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Como a neurociência e a filosofia podem nos ajudar na escolha de um candidato?

 

Em momentos conturbados como o que vivemos a junção da neurociência com a filosofia pode nos guiar em nossas escolhas.

Pensemos na violência, por exemplo. Ela é fruto da agressividade que está presente em todos animais e é essencial para a sobrevivência. A natureza não descarta nada. Temos em nosso cérebro os mesmos mecanismos de agressividade de outros animais. No ser humano a agressividade é expressa por    violência, seja física, verbal ou mesmo a violência da indiferença, expressa pela falta de compaixão e empatia.

De onde viemos? Para onde vamos? Nos pergunta a filosofia.

Viemos dessa matriz animal e vamos para o que chamamos de humanidade.

O ser humano está em contínua construção. O processo civilizatório vai sofisticando e “domesticando” os mecanismos da agressividade, o que nos permite controlá-los. Nessa caminhada, vamos substituindo atitudes selvagens por valores como empatia, compaixão, tolerância, que nos permite viver em comunidade.

A política faz parte do processo civilizatório ao criar e manter instituições sólidas, para garantir nossa liberdade e nossos direitos.   

Como são construções humanas, é natural que sejam imperfeitas, como também é natural vivermos momentos de retrocessos. E são nesses momentos, como o que vivemos hoje, no Brasil e no mundo, que a junção da neurociência com a filosofia pode nos guiar em nossas escolhas. A neurofilosofia nos permite pensar um mundo adequado ao nosso destino: a construção do humano.

Nesse mundo, a liberdade, representada na política pela democracia, é essencial, pois nos permite também, não somente pensar, mas também agir, ao votar naqueles  que representam   nossos mais caros valores no processo de construção do humano.

É assim que farei minhas escolhas nas próximas eleições: votando em candidatos que prezam e lutam pela liberdade, tolerância, compaixão, respeito às instituições e, sobretudo, pela não violência.

 Pois é num mundo assim que quero viver.

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