O patriotismo é o último
refúgio de um canalha
Samuel
Johnson (1709-1784)
A frase em epígrafe de um dos
mais cultuados escritores ingleses, Samuel Johnson, não é crítica ao
patriotismo, mas do uso que canalhas fazem dele: explorar esse sentimento como
armadilha para angariar interesses espúrios.
Os
protestos diante dos quartéis do Exército pedindo a intervenção militar no processo
eleitoral brasileiro tem um lado positivo: antes, poderíamos até negar que a
escolha de Bolsonaro significaria fazer parte de uma corrente com anseios antidemocráticos.
Agora não.
Qualquer cidadão de bem, com mínimo de conhecimento da história, repudia ditaduras, de qualquer matiz,
Também
é antidemocrático tentar destruir a reputação de nossas Instituições. Todos
concordamos que elas não são perfeitas, mas ainda representam um oásis em meio
a um deserto de barbárie.
Convoca-se
a família como lema de campanha como se não fossem legítimas outras formas de
família, para além da tradicional. O que se ensina em uma boa família são
princípios de ética, respeito, tolerância e convívio social. E a forma mais
eficaz, que alguns consideram até única, é o exemplo. Propagar o ódio e a violência,
no discurso e nas ações, está na direção oposta aos ensinamentos que devem ser
difundidos dentro de uma verdadeira família.
Ética,
respeito e tolerância também se aplicam à religião. Respeitar o Deus de cada um
é apenas um primeiro passo. Religião sem ética é fé desvairada, praticada por
aqueles que ao longo do caminho esqueceram-se da razão de se caminhar. Não há nada de religioso em produzir e
sistematicamente difundir falsas notícias, atacando a reputação de pessoas e
Instituições. Como nos lembra João, versículo 8: 2- "E conhecerão a
verdade, e a verdade os libertará".
Tivemos
oportunidade de abandonar a polarização política, cujo único mote é apontar os
inúmeros defeitos da extremidade oposta. Infelizmente, nosso sistema
democrático nos obrigou a escolher um entre dois representantes desses
extremos, que entre inúmeros outros desvios não podem convocar a honestidade
como virtude.
Mas
o momento dessa disputa já passou. É hora de baixar as armas e devolver nossa
bandeira, que afinal pertence a todos nós brasileiros.
Quem
sabe possamos juntos, envoltos no manto de um patriotismo verdadeiro,
fiscalizar as ações desse novo governo que tem pelo menos um compromisso
realizável: manter nossa democracia e nossa liberdade para criticar.