Atuação

• Coordenador do Serviço de Neurocirurgia e Neurologia do Hospital Unimed BH • Neurocirurgião do Biocor Instituto, Belo Horizonte, MG Membro Titular da Academia Mineira de Medicina • Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia • Membro do Congresso of Neurological Surgeons • Mestrado e Doutorado em Cirurgia pela UFMG

Especialidades

• Malformação • Artério Venosa • Aneurisma Cerebral • Cirurgia de Bypass • Revascularização Cerebral • Cirurgia de Carótida • Tumores Cerebrais • Descompressão Neurovascular • Doença de Moya-Moya Tumores da Base do Crânio Doppler Transcraniano

Contato

Alameda da Serra 400 / 404 - Nova Lima - MG (31)3264-9590 • (31) 3264-9387 jrasomd@yahoo.com.br
fev
10

Trump e as batatas

 

Em minha peça “Uma passagem para dois”, que integra a “Mostra Jair Raso 40 anos”, escrevo que todos tempos dentro de nós uma besta irada. A frase pode parecer um bordão teatral, mas a neurociência explica sua veracidade. Na evolução do nosso cérebro a natureza não descartou nosso lado animal, que ocupa áreas e circuitos que cumprem função muito importante para nossa sobrevivência, pois nos prepara para lutar ou fugir em situações de perigo.

Mas o grande diferencial do nosso cérebro em relação ao dos animais é que ele é maravilhosamente equipado com áreas e circuitos muito maiores e complexos que dominam o cérebro mais primitivo. Se pudermos resumir a uma só palavra a importância dessa evolução basta dizer que ela é a responsável pela civilização.

A palavra civilização convoca outras similares como civilidade, cortesia, polidez, cordialidade, amabilidade. É a civilidade que permite a nossa espécie sobreviver vivendo juntos e em paz, estratégias que ao longo da história demonstraram o caminho que devemos seguir.

Toda essa introdução é para perceber que a volta de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos é a volta de nossa besta irada, que é facilmente comprovada quando ouvimos suas propostas, algumas já transformadas em decretos.

Representante do que se chama direita radical, Trump está caçando briga com vários países e sua caneta vai provocar estragos em todo planeta. Em pouco tempo poderemos contabilizar o número de mortos em consequência da saída dos Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde, o que representa um corte de quase metade do orçamento do órgão. O impacto negativo nos programas de saúde coletiva da OMS será inevitável.

A saída o acordo de Paris representa o desprezo ao meio ambiente, fruto do negacionismo que se estende também para outras áreas da ciência.

Mas voltando ao nosso lado animal e a peça teatral citada: está cravada em algum canto de nosso cérebro a memória que nos incita a eliminar nossos inimigos para sobrevivermos. Na peça, cito o personagem Quincas Borba, de Machado de Assis e sua fala sobre duas tribos famintas disputando um campo de batatas. O campo não é suficiente para alimentar as duas tribos, que entram em luta. Uma vence e a outra é eliminada. Ao vencedor as batatas!  

Trump e sua extrema direita não veem espaço para todos nesse mundo. Os mais fracos devem ser eliminados, deixando as batatas para os americanos mais abastados.  

Por outro lado, há uma outra escolha que sempre podemos fazer. Nossa civilização e civilidade nos fez aumentar a produção de batatas, para que as duas tribos de Quincas Borba possam sobreviver. Não há mais necessidade de se matarem e a convivência entre as duas pode e deve ser pacífica. Esse é o caminho da humanidade.

Infelizmente, o caminho da civilização não é uma reta pavimentada em direção única. Há sempre a possibilidade de voltarmos para trás.  Trump representa uma dessa voltas, a volta da besta brigando por batatas.

 

 

Categories: