Caminho
do Sucesso – Parte I: Phronesis e Soft
skills
Fui convidado por alunos da
Faculdade de Medicina de Barbacena para proferir a palestra de abertura do I
Congresso de Especialidades e Carreira Médica, organizado por eles e realizado
entre os dias 21 e 23 de maio.
Fiquei muito feliz com o
convite, não só por me dar oportunidade de retornar à faculdade onde me formei,
mas sobretudo pelo desafio do tema proposto por eles para a palestra: “O
Caminho para o Sucesso Acadêmico; Condutas essenciais para médicos em
formação”.
Poderia abordar o tema sob
minha perspectiva como acadêmico de medicina, encarando o sucesso de ter sido
primeiro aluno. Mas se fosse por esse caminho, teria respondido apenas a
primeira parte do título da palestra, que considero a mais fácil. Afinal, ser
comprometido com o estudo da medicina e tirar boas notas é uma parte muito
pequena da difícil tarefa de se tornar um bom médico.
Comecei a palestra assim,
mostrando que o estudante de medicina não é um estudante qualquer, de quem se espera
bom desempenho acadêmico, justamente porque ele está se preparando para se
tornar médico, que é um profissional diferente. Do médico, exige-se muito mais
que conhecimento técnico. É comum mesmo se referir à medicina como arte, tanto
quanto ofício.
É inevitável buscarmos modelos
a serem seguidos e citei vários dos professores que muito influenciaram minha
formação, com especial destaque ao professor Luigi Bogliolo. Mas alertei que o
tal caminho do sucesso é individual e intransferível, que convoca o autoconhecimento
e é tarefa árdua que só tem início e cujo destino serve mais como alinhamento
de direção do que ponto de chegada.
Para além da experiência
pessoal, abordei o tema da medicina como phronesis,
proposto pela Dra. Kathryn Montgomery, professora emérita de Bioética da Northwestern
University Feinberg School of Medicine, autora do livro How Doctors Think, clinical judgment and the practice of Medicine (Como
os médicos pensam, juízo clínico e a prática da medicina, Oxford University
Press,1986).
Nessa
linha de pensamento, que comungo com a autora, medicina vai além da arte e da
ciência. Mais que um corpo de conhecimento técnico e o desenvolvimento de
habilidades, o acadêmico de medicina deve aprender o cuidado racional de
pacientes, com fundamentos da melhor evidência científica, ajustando o
conhecimento e a experiência às circunstâncias de cada paciente. Esse seria o
exercício da medicina como phronesis,
que Aristóteles (383-321 AC) define como capacidade intelectual ou virtude que
pertence aos esforços práticos e não à ciência.
O
exercício da medicina como phronesis
seria a aplicação da razão prática, do julgamento clínico, que permite ao
médico ajustar seu conhecimento e experiência às circunstâncias de cada
paciente.
O
desafio de se ensinar a phronesis poderia ser resumido na frase do próprio
Aristóteles em sua Ética a Nicômaco: “aquilo que se deve fazer para aprender,
aprende-se fazendo”.
Ao
lado dessa razão prática, o estudante deve aprender e desenvolver habilidades
que em seu conjunto são referidas como soft
skills: comunicação, empatia, compaixão, curiosidade.
Encerro a palestra com dois temas, que abordarei na parte II: a medicina como neotenia e a construção da inteligência aliada à inteligência artificial.