Em uma de minhas peças de teatro
(A divina decepção) faço troça com
nosso sistema único de saúde, o SUS, e a Constituição quando meu personagem diz que a
“saúde é um dever de todos e um direito do reino”.
À luz de nosso sistema de saúde,
a troça faz sentido. Se, por um lado, nossa Lei maior diz que a saúde é um
direito de todos e um dever do Estado, na prática, nosso Sistema Único de Saúde
simplesmente não cumpre seu dever.
Os planos de saúde, por seu
turno, são verdadeiros planos de saúde mesmo. Quando o sujeito adoece, não raro
tem de brigar com seus planos para a cobertura integral do tratamento. Afinal, eles são planos de saúde. Quem mandou
adoecer?
No reino fictício de minha peça,
o governo simplesmente obriga as pessoas a ter saúde e ponto final. Problema
resolvido.
Sei que a arte é imitação da
vida. Mas, sinceramente, nunca pensei que essa troça fosse ser confirmada. Pois
aconteceu.
A crise do sistema de saúde
americano levou o presidente Barach Obama a propor uma reforma drástica com um
plano que obriga cada americano a ter um plano de saúde. Democratas e
Republicanos fizeram acaloradas discussões pró e contra a reforma.
Obviamente, na capital da
democracia moderna, o governo foi questionado judicialmente, e a Suprema Corte
teve de responder ao seguinte argumento: Pode um governo exigir que um cidadão
compre um plano de saúde?
A resposta da Suprema Corte foi a
esperada: não. Entretanto, o plano do governo não foi considerado
inconstitucional por um simples e irônico detalhe: a punição para quem não
adquirir um plano. Se um americano se recusar a adquirir um plano de saúde, o
governo irá cobrar, no Imposto de renda dele, uma taxa de 2,5%.
A Suprema Corte diz que o governo
tem o poder de criar taxas, portanto, o plano de Obama continua valendo.
Com a aprovação, acredita-se que
32 milhões de americanos deverão adquirir um plano de saúde, e cerca de 4
milhões não terão esse benefício oferecido por seus patrões. No corpo do plano,
só empresas com mais de 50 empregados é que são obrigadas a oferecer planos de
saúde a seus funcionários.
O ObamaCare, como é conhecido o
plano de reforma na saúde do atual presidente americano, tem fortes aliados e
opositores. Todos sabem que a Saúde precisa de reforma, pois o modelo atual é
insustentável. O preço da medicina americana é estratosférico, e grande número
de americanos simplesmente estão sem nenhuma cobertura.
Hospitais e seguradoras comemoram
a decisão da Suprema Corte. Os médicos estão divididos. Mas e o povo, o que pensa?
Essa resposta virá em Novembro,
quando haverá eleição para presidente nos Estados Unidos. Afinal, o plano de
Obama venceu apenas o primeiro ato, o judicial. Deverá vencer nas urnas também,
pois só entrará em vigor em 2014.
Barach Obama e seu plano são
candidatos à reeleição. Seu opositor, Mitt Rommey, já prometeu que, se vencer
as eleições, enterra de vez o ObamaCare.
A decisão da Suprema Corte deixa
claro para todos que a reforma vai doer no bolso do cidadão americano, seja
diretamente, ao adquirir um plano de saúde, ou indiretamente, por meio da taxa
no imposto de renda.
Em novembro, o cidadão americano
terá a oportunidade de aprovar ou não a reforma na saúde e, de maneira bem
clara e objetiva: votando em um ou outro candidato.
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Crônica médica