Em torno do dia 18 de
outubro, dia de São Lucas, do médico, gostaria
de escrever algo que não fosse laudatório, atordoado que estou, como a maioria
dos médicos sérios deste país, com a política em torno da Medicina, nossa
profissão.
Alguns
entendem que o programa “Mais Médicos” tem cunho ideológico e eleitoreiro e o
atacam por isso. Penso que o problema maior deste programa “Mais Médicos” é que
ele significa menos Medicina.
Medicina
não é uma profissão como outra qualquer, que se aprende na escola, registra-se
em diploma e pronto. Medicina é um compromisso com a vida.
A vida do outro passa a fazer parte da sua vida, em constante transformação e aprendizado.
A vida do outro passa a fazer parte da sua vida, em constante transformação e aprendizado.
E
Medicina também não é apenas e tão somente o médico. Ouvir o paciente, suas
queixas e sua história, examiná-lo, dar diagnósticos, pedir exames e prescrever
são tarefas do médico. Mas Medicina mesmo é bem mais do que isso.
Não
existe boa Medicina onde não há condições de saneamento básico. Não existe
Medicina sem enfermeiras e técnicos de enfermagem. Não existe boa Medicina sem
psicólogos, fisioterapeutas e tantas áreas afins ao ato médico. Não existe
Medicina sem acesso a medicamentos. Não existe Medicina sem acesso a hospitais.
Não existe Medicina sem tecnologia de
ponta aplicada à saúde.
O
programa “Mais Médicos” é equivocado por isso. Para onde não existe Medicina,
ele quer mandar médico. Deveria primeiro mandar um engenheiro sanitarista e uma
boa escola. Sem este terreno básico e fértil não é possível florescer boa
Medicina.
E o
programa ainda peca por querer mandar para onde não existe Medicina um médico
estranho, de qualificação duvidosa e não comprovada.
O
programa peca mais ainda quando faz tudo isto de maneira autoritária, por meio
de decretos, passando por cima das instituições médicas e negociando apoio nas
instituições políticas em troca de favores de fins eleitoreiros. Esta é,
infelizmente, a forma lamentável de se fazer política no Brasil.
Já
se disse que política é algo tão sério que não deveria ficar a cargo de
políticos.
Neste
18 de Outubro, gostaria de escrever para
meu colega médico que sua atuação é política, genuíno exercício de sua cidadania, quando se debruça sobre o cidadão
e sua fragilidade.
E
que, apesar de toda a política equivocada de saúde deste governo despreparado,
ainda é possível exercer com dignidade e respeito a Medicina que aprendemos,
que continuaremos a aprender e a ensinar.
Afinal,
somos mais que estranhos profissionais a serviço de causa e ideologias alheias
à Medicina. Somos bem mais que isso. Somos médicos.
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Crônica médica