As imagens de Brumadinho mancham de lama a alma de qualquer pessoa.
Já em Barão de Cocais e Macacos, não. A lama é invisível.
Aquele jovem empresário fechou o restaurante que administrava com
sucesso há anos. Era uma das principais atrações turísticas de Macacos. Mas
agora, com ameaça de estouro de mais uma barragem, seu negócio foi fechado.
Os empregados que ali trabalhavam já acrescentam números ao
já estratosférico desemprego no Brasil.
Aquele senhor idoso que mora ali na esquina, na casa que
herdou de seu pai, que, por sua vez, herdou de seu avô, foi parar no hospital.
Também pudera: uma sirene tocou alto numa noite chuvosa de um sábado até então tranquilo.
Um carro de som convocava: “abandonem suas casas. Essa é uma situação real de
rompimento de barragem”.
O coração do velho passou a bater descompassado. Sair de
casa e ir para onde? Em sua memória, as imagens de Brumadinho o empurravam para
ir para qualquer lugar.
No dia seguinte, passado o susto, ficou sabendo que aquele
alarde todo era apenas protocolo de segurança, que jamais havia sido utilizado
e para o qual não houve nenhum preparo da comunidade.
Mesmo assim, centenas de pessoas não podem mais voltar para
seus lares condenados pela ameaça de lama.
A criança, que já não dorme à noite, tem terror a qualquer
barulho. Seu medo é ficar sem o pai ou a mãe, como aconteceu com muita outras
em Brumadinho.
Mas aqui, nessa cidade, não houve rompimento de nenhuma
barragem. Foi só um susto. Um baita susto provocado por um protocolo. Para que a empresa Vale ficasse de
acordo com as exigências das autoridades públicas.
Da noite para o dia, toda a atividade que ali se faz há
vários anos, mostrou-se irresponsavelmente arriscada para a comunidade.
A desinformação é tamanha, que pode ser justamente o
contrário: não há risco, mas também não há ninguém que assuma a
responsabilidade de assinar pela segurança.
Macacos, antes uma cidade turística, perdeu seus visitantes.
Apesar de limpa, sem uma gota de barro ou lama, vai
perdendo seu valor, sua confiança, seus encantos.
E por todo o lado, o que a gente vê são pessoas comuns, que
não estão sujas da lama das barragens, pois essa
lama, que aos poucos tenta destruir a cidade, é invisível.
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