Para além da modalidade, Residência ou Especialização, com suas
vantagens e desvantagens características, o maior desafio do ensino da
neurocirurgia é o de como ensinar uma especialidade que exige vasto
conhecimento teórico com praxias complexas para lidar com o Sistema Nervoso
Central.
A imersão na rotina de trabalho de um grande serviço é o primeiro passo.
Mas o caminho é longo e árduo para adquirir as competências necessárias. A
Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN) e o MEC estipularam o tempo de
formação do neurocirurgião em 5 anos. Assim, depois dos seis anos para se
tornar médico, o residente ainda vai dedicar-se por mais de 13000 horas de trabalho
para então, e só então, começar sua carreira na neurocirurgia.
Imerso em serviço de alta demanda, no primeiro ano o residente passa por
um estágio de neurologia clínica, que tem a duração de 6 a 8 meses ou, em
alguns casos, até um ano. Ao final desse estágio, ele deve ter o domínio do exame
neurológico e noções básicas de doenças neuroclínicas. Deve também estudar a
fundo a neuroanatomia aplicada à neurocirurgia, bem mais complexa que aquela
que já estudou em seu curso de medicina. Além disso, tem que aprofundar seus
conhecimentos de neurofisiologia e embriologia aplicadas à neurocirurgia, bem
como adquirir noções de bioética e aplica-las no dia a dia. Ainda nesse primeiro ano de residência ele deve
aprender a interpretar exames
neurorradiológicos além de ter práticas no bloco cirúrgico, incluindo a
instrumentação cirúrgica, diversa daquela de outras especialidades.
No segundo ano, o residente já
participa mais das rotinas do bloco cirúrgico, aprendendo as técnicas neurocirúrgicas
básicas e realizando pequenos procedimentos. Nesse ano ele faz estágio de neuroatrauma
e neurointensivismo. No campo teórico, estuda neuropatologia e aprofunda seus conhecimentos
de bioética e interpretação de exames neurorradiológicos.
Ao chegar ao terceiro ano o residente já
realiza procedimentos mais complexos e passa a lidar com neurooncologia e
doenças cerebrovasculares. Também é introduzido às técnicas de diagnóstico e
tratamento endovasculares.
Já no quarto ano, o residente passa a realizar
procedimentos de Neurocirurgia funcional, técnicas cirúrgicas dos aneurismas
cerebrais e malformações arteriovenosas do encéfalo e da medula espinhal,
tumores da base do crânio e neuroendoscopia.
Finalmente, no quinto ano, o residente consolida sua experiência cirúrgica e faz
estágios em neurocirurgia funcional, pediátrica e neurorradiologia
intervencionista.
Durante
todo o treinamento o residente trabalha junto com um neurocirurgião titulado. Além
da avaliação no serviço, a SBN aplica uma prova ao final de cada ano de residência
e a prova final para obtenção do título de especialista.
Durante
todos os anos os residentes aprendem as etapas de elaboração de trabalho
científico, têm noções de bioestatística e dão inúmeras aulas sobre os diversos
tópicos da especialidade, seja nas reuniões científicas de cada serviço, seja
em congressos. Além disso, treina técnicas microcirúrgicas em laboratório de
microcirurgia.
Ao
final desse árduo programa de aprendizado espera-se que o neurocirurgião tenha adquirido o
treinamento necessário para realizar a maioria dos procedimentos
neurocirúrgicos, com domínio técnico e comportamento ético e cordial. Além
disso, espera-se que saiba trabalhar em equipe valorizando a interação com os
demais profissionais
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