Jair Raso

Atuação

• Coordenador do Serviço de Neurocirurgia e Neurologia do Hospital Unimed BH • Neurocirurgião do Biocor Instituto, Belo Horizonte, MG Membro Titular da Academia Mineira de Medicina • Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia • Membro do Congresso of Neurological Surgeons • Mestrado e Doutorado em Cirurgia pela UFMG

Especialidades

• Malformação • Artério Venosa • Aneurisma Cerebral • Cirurgia de Bypass • Revascularização Cerebral • Cirurgia de Carótida • Tumores Cerebrais • Descompressão Neurovascular • Doença de Moya-Moya Tumores da Base do Crânio Doppler Transcraniano

Contato

Alameda da Serra 400 / 404 - Nova Lima - MG (31)3264-9590 • (31) 3264-9387 jrasomd@yahoo.com.br

Caminho do Sucesso Acadêmico – Parte II: Neotenia e a inteligência construída X artificial

 


palavra Neotenia vem do grego neo (novo, novidade) e teinein, que significa estender, prolongar. O termo vem da biologia e se refere a organismos adultos que mantém traços infantis. O exemplo clássico de neotenia é o Axolotle, a salamandra mexicana, que mantem na idade adulta características larvais, como as brânquias externas, que lhe conferem um aspecto juvenil.

Na antropologia, o estudo da evolução da espécie humana considera que a neotenia exerce um papel central, tanto do ponto de vista biológico como comportamental.  Comparado a outros primatas, o homo sapiens adulto têm características físicas consideradas juvenis, como o crânio arredondado, a pequena mandíbula, a ausência de pelos e a postura ereta. Nosso cérebro tem desenvolvimento muito lento, mas com altíssima plasticidade neuronal, que nos permite melhor adaptação ao ambiente e a manutenção da capacidade de aprendizado por toda vida. Nossa constante curiosidade, essencial para inovação e para o pensamento científico e criativo é considerada uma característica neotênica.

Do ponto de vista de comportamento, por questões de sobrevivência desenvolvemos fortes vínculos familiares e sociais com extraordinária capacidade de afeto, empatia e cooperação. A neotenia permite nossa inserção e adaptação a redes de socialização complexas, criando e adotando regras e valores, que passam de geração a geração.

E o que a neotenia tem a ver com o a medicina e seu ensino. Por ser a mais humana das profissões, penso que o aprimoramento de nossas melhores características neotênicas deve ser a base da formação do médico. São exemplos de habilidades neotênicas que temos que aprimorar e ensinar: o comprometimento com o aprendizado por toda vida, o fortalecimento de laços sociais e cooperativos e o trabalho em equipe. Empatia, resiliência, plasticidade, flexibilidade e curiosidade, todas características neotênicas de todo bom médico e demais profissionais da saúde.

E o que a neotenia tem a ver com inteligência artificial? Nossa inteligência genuína não é dada, mas construída, exigindo de nós grande empenho e esforço por toda uma vida. A neotenia nos ajuda a plasmar um cérebro inteligente, adaptável e criativo, capaz de aprender, mudar e se adaptar a partir das experiências.

É a neotenia que nos capacita para encarar a inteligência artificial (IA) não como uma oposição à nossa inteligência, mas como uma oportunidade para ampliá-la. O uso da IA como ferramenta de ensino e aprendizagem, bem como na prática médica cotidiana, no atendimento em consultórios, ambulatórios e mesmo à beira do leito já é uma realidade sem retorno.

O desafio será como usar essas engenhocas eletrônicas e ao mesmo tempo aprimorar nossas características neotênicas. Ou seja, como nos tornar cada vez mais humanos para cuidar do ser humano.

Assim podemos resumir o caminho do sucesso acadêmico: se inspirar no modelo, mas fazer o próprio caminho, tendo como base o autoconhecimento; praticar a medicina como phronesis, para além da arte e ciência, procurando ser soft com nossas skills e aprimorar nossas melhores qualidades neotênicas.

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Caminho do Sucesso Acadêmico – Parte I: Phronesis e Soft skills

Caminho do Sucesso Acadêmico – Parte I: Phronesis e Soft skills

 

Fui convidado por alunos da Faculdade de Medicina de Barbacena para proferir a palestra de abertura do I Congresso de Especialidades e Carreira Médica, organizado por eles e realizado entre os dias 21 e 23 de maio.

Fiquei muito feliz com o convite, não só por me dar oportunidade de retornar à faculdade onde me formei, mas sobretudo pelo desafio do tema proposto por eles para a palestra: “O Caminho para o Sucesso Acadêmico; Condutas essenciais para médicos em formação”.

Poderia abordar o tema sob minha perspectiva como acadêmico de medicina, encarando o sucesso de ter sido primeiro aluno. Mas se fosse por esse caminho, teria respondido apenas a primeira parte do título da palestra, que considero a mais fácil. Afinal, ser comprometido com o estudo da medicina e tirar boas notas é uma parte muito pequena da difícil tarefa de se tornar um bom médico.

Comecei a palestra assim, mostrando que o estudante de medicina não é um estudante qualquer, de quem se espera bom desempenho acadêmico, justamente porque ele está se preparando para se tornar médico, que é um profissional diferente. Do médico, exige-se muito mais que conhecimento técnico. É comum mesmo se referir à medicina como arte, tanto quanto ofício.

É inevitável buscarmos modelos a serem seguidos e citei vários dos professores que muito influenciaram minha formação, com especial destaque ao professor Luigi Bogliolo. Mas alertei que o tal caminho do sucesso é individual e intransferível, que convoca o autoconhecimento e é tarefa árdua que só tem início e cujo destino serve mais como alinhamento de direção do que ponto de chegada.

Para além da experiência pessoal, abordei o tema da medicina como phronesis, proposto pela Dra. Kathryn Montgomery, professora emérita de Bioética da Northwestern University Feinberg School of Medicine, autora do livro How Doctors Think, clinical judgment and the practice of Medicine (Como os médicos pensam, juízo clínico e a prática da medicina, Oxford University Press,1986).

Nessa linha de pensamento, que comungo com a autora, medicina vai além da arte e da ciência. Mais que um corpo de conhecimento técnico e o desenvolvimento de habilidades, o acadêmico de medicina deve aprender o cuidado racional de pacientes, com fundamentos da melhor evidência científica, ajustando o conhecimento e a experiência às circunstâncias de cada paciente. Esse seria o exercício da medicina como phronesis, que Aristóteles (383-321 AC) define como capacidade intelectual ou virtude que pertence aos esforços práticos e não à ciência.

O exercício da medicina como phronesis seria a aplicação da razão prática, do julgamento clínico, que permite ao médico ajustar seu conhecimento e experiência às circunstâncias de cada paciente.

O desafio de se ensinar a phronesis poderia ser resumido na frase do próprio Aristóteles em sua Ética a Nicômaco: “aquilo que se deve fazer para aprender, aprende-se fazendo”.

Ao lado dessa razão prática, o estudante deve aprender e desenvolver habilidades que em seu conjunto são referidas como soft skills: comunicação, empatia, compaixão, curiosidade.

Encerro a palestra com dois temas, que abordarei na parte II: a medicina como neotenia e a construção da inteligência aliada à inteligência artificial. 

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Trump e as batatas

 

Em minha peça “Uma passagem para dois”, que integra a “Mostra Jair Raso 40 anos”, escrevo que todos tempos dentro de nós uma besta irada. A frase pode parecer um bordão teatral, mas a neurociência explica sua veracidade. Na evolução do nosso cérebro a natureza não descartou nosso lado animal, que ocupa áreas e circuitos que cumprem função muito importante para nossa sobrevivência, pois nos prepara para lutar ou fugir em situações de perigo.

Mas o grande diferencial do nosso cérebro em relação ao dos animais é que ele é maravilhosamente equipado com áreas e circuitos muito maiores e complexos que dominam o cérebro mais primitivo. Se pudermos resumir a uma só palavra a importância dessa evolução basta dizer que ela é a responsável pela civilização.

A palavra civilização convoca outras similares como civilidade, cortesia, polidez, cordialidade, amabilidade. É a civilidade que permite a nossa espécie sobreviver vivendo juntos e em paz, estratégias que ao longo da história demonstraram o caminho que devemos seguir.

Toda essa introdução é para perceber que a volta de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos é a volta de nossa besta irada, que é facilmente comprovada quando ouvimos suas propostas, algumas já transformadas em decretos.

Representante do que se chama direita radical, Trump está caçando briga com vários países e sua caneta vai provocar estragos em todo planeta. Em pouco tempo poderemos contabilizar o número de mortos em consequência da saída dos Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde, o que representa um corte de quase metade do orçamento do órgão. O impacto negativo nos programas de saúde coletiva da OMS será inevitável.

A saída o acordo de Paris representa o desprezo ao meio ambiente, fruto do negacionismo que se estende também para outras áreas da ciência.

Mas voltando ao nosso lado animal e a peça teatral citada: está cravada em algum canto de nosso cérebro a memória que nos incita a eliminar nossos inimigos para sobrevivermos. Na peça, cito o personagem Quincas Borba, de Machado de Assis e sua fala sobre duas tribos famintas disputando um campo de batatas. O campo não é suficiente para alimentar as duas tribos, que entram em luta. Uma vence e a outra é eliminada. Ao vencedor as batatas!  

Trump e sua extrema direita não veem espaço para todos nesse mundo. Os mais fracos devem ser eliminados, deixando as batatas para os americanos mais abastados.  

Por outro lado, há uma outra escolha que sempre podemos fazer. Nossa civilização e civilidade nos fez aumentar a produção de batatas, para que as duas tribos de Quincas Borba possam sobreviver. Não há mais necessidade de se matarem e a convivência entre as duas pode e deve ser pacífica. Esse é o caminho da humanidade.

Infelizmente, o caminho da civilização não é uma reta pavimentada em direção única. Há sempre a possibilidade de voltarmos para trás.  Trump representa uma dessa voltas, a volta da besta brigando por batatas.

 

 

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A neurociência é a minha Grécia, onde o Teatro e a Medicina se reencontraram

 Em junho de 2019, fui convidado pela Fundação Educacional Lucas Machado (FELUMA) para ser o seu curador de arte e cultura. As obras para o Teatro Feluma tinham apenas começado. Na mesma época fui contratado como professor da cadeira optativa de Neurocirurgia do curso de Medicina com o compromisso de ministrar outra matéria que ajudasse os alunos a desenvolverem suas soft skills, recomendação do MEC para cursos na área da saúde para desenvolver nos alunos habilidades de comunicação, empatia e compaixão.  Foi assim que introduzi uma matéria inédita em currículos da área de saúde: Neurociência e artes cênicas aplicadas à saúde. 

Em fevereiro de 2020, ofereci a matéria, optativa para todos os cursos da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais: Medicina, Enfermagem, Psicologia e Fisioterapia. O curso seria teórico/prático presencial, mas   teve que ser adaptado para uma versão on-line, devido à pandemia, decretada em março daquele ano. Em junho, após uma trégua do isolamento e o devido distanciamento, a primeira turma subiu ao palco do Teatro Feluma para o encerramento do curso, com apresentação de cenas curtas elaboradas e ensaiadas on-line. Desde então o curso é ministrado desde então, sendo também matéria optativa para novo curso de Odontologia da Faculdade Ciências Médicas. 

O conteúdo do curso nasceu de minha experiência com atores profissionais na montagem de peças de Teatro. Desde 2002, utilizo no meu trabalho de diretor teatral os conhecimentos oriundos da neurociência, concomitante ao método de Constantin Stanislaviski (1863-1938), célebre ator e diretor russo. 

Da neurociência trago as descobertas relativamente recentes sobre a especialização dos hemisférios cerebrais, notadamente aquelas do hemisfério direito (HD), além de outros conhecimentos bem estabelecidos, tais como os mecanismos neurais da memória, da atenção e das emoções. 

O objetivo era o de utilizar exercícios direcionados para estimular as funções do HD, no intuito de facilitar o trabalho dos atores na memorização de textos e ampliar sua criatividade. 

Esse método já foi utilizado nos ensaios de oito peças teatrais, seis delas de minha autoria:  Três Mães (2002), A corda e o livro (2004), Julia e a memória do futuro (2006), DDD, deleite, depois delete (2016), Maio, antes que você me esqueça (2020), Uma passagem para dois (2024). O método foi utilizado também nos ensaios de outras duas peças: O Palco Iluminado (2019), de Rogério Falabella e O Belo Indiferente (2022), de Jean Cocteau.  O Palco Iluminado foi a peça que marcou a estreia do Teatro Feluma. 

Durante os ensaios foram utilizados exercícios para estimular as atividades de áreas do cérebro cuja dominância é atribuída ao HD. O objetivo era o de promover a plasticidade cerebral no intuito de facilitar o trabalho dos atores e aguçar sua criatividade. 

Participaram das peças 15 artistas, sendo 10 homens e 5 mulheres, com idade variando de 20 a 84 anos. Um ator e uma atriz participaram de duas montagens: Marcelo do Vale, aos 21 e 43 anos (Três mães e Uma Passagem para dois, respectivamente) e Juçara Costa aos 55 e 65 anos de idade (espetáculos Julia e a memória do futuro, em 2006 e DDD, deleite, depois delete, de 2016). 

Na 50ª. Campanha de popularização do Teatro e da Dança de Belo Horizonte, participo com uma mostra de cinco trabalhos: Uma passagem para dois, Maio, antes que você me esqueça, Julia e a memória do futuro, O belo indiferente e o musical Chico Rosa.

Sigo ministrando as duas matérias na Faculdade Ciências Médicas, de forma alternada: no primeiro semestre, neurociências e artes cênicas aplicadas à saúde; no segundo semestre, Tópicos em Neurocirurgia. 

Unir neurociências e artes cênicas foi a forma que encontrei para conviver pacificamente com duas profissões tão distintas que abracei.   

O corpo de conhecimento médico da Grécia antiga e o Teatro grego saíram do mesmo berço e foram fundamentais para nossa civilização.  Por isso, costumo dizer que a neurociência é minha Grécia, onde o médico e o artista de teatro se reencontraram.

 

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Brain Rot: isso não está me cheirando bem

 


 

O uso excessivo de conteúdos digitais, muita vez gerados por inteligência artificial, está comprometendo a inteligência humana.

Ninguém questiona que as pessoas consumem de modo excessivo o conteúdo online, especialmente em seus smartphones.  

Se algum Da Vinci do futuro for desenhar um novo Homem Vitruviano, certamente o faria com o pescoço inclinado, fruto de uma pseudoartrose entre as quartas e quintas vértebras cervicais provocada pela posição em que se lê as telas dos celulares.

Quem dera o problema fosse apenas esse. O conteúdo superficial de textos mergulhados numa profusão de imagens inunda o cérebro com informações de relevância duvidosa, dificultando a aquisição de conhecimento.

Não há espaço para imaginação. Não há tempo para leituras demoradas. Não há estímulo para reflexões. Em meio a tanta informação, vai sendo criado um universo de desinformados, que têm opinião pouco qualificada sobre qualquer tema, pois sabem quase nada de quase tudo.

Assim está sendo criado o cérebro podre. Brain rot, em tradução literal é isso mesmo: o apodrecimento do cérebro.

Essa palavra foi escolhida pela Oxford University Press como a palavra do ano 2024.

Definida como “deterioração intelectual resultante do consumo excessivo de conteúdos triviais e pouco desafiadores”, brain rot é mesmo uma questão inequívoca de saúde mental.

Vamos assumir que estamos todos viciados em smartphones, telefones inteligentes que estão nos tornando cada vez mais limitados intelectualmente. Instagram, tik-tok, zaps, face e similares em dose excessiva são venenos. Precisamos nos desintoxicar.  

O antídoto é a leitura, a arte, o estudo aprofundado de temas que nos interessam, atividade física, mais conversa e convívio social.

Se 2024 foi o ano do brain rot, desejar um ano novo diferente é mais que necessário.

Afinal esse tal de brain rot não cheira nada bem.    

 

 

 

 

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Telefone celular e tumor cerebral: alguma ligação?

 O uso e abuso do telefone celular levanta a questão do risco de desenvolvimento de tumores do sistema nervoso central. 

Há muitos estudos sobre o assunto e, apesar das controvérsias, não há evidência robusta que suporte a relação entre o uso do telefone celular e o desenvolvimento de tumores como os meningeomas, gliomas e neuroma do acústico. 

Parte da dificuldade das pesquisas se deve às transformações do uso do celular, que deixou de ser apenas um aparelho para ligação telefônica para se transformar em conjunto de aplicativos que permite ao usuário fazer tarefas como ir ao banco, pagar boletos, ler e enviar mensagens, assistir a filmes e, sobretudo navegar no instagram e se comunicar pelo Zap. Até mesmo o já velho e tradicional email pode ser acessado. Os  smartphones são cada vez mais capazes de resolver nossos problemas, seja como ferramenta de trabalho ou laser. 

Isso aumenta o tempo de exposição à radiação eletromagnética dos aparelhos, usados bem próximo do crânio. 

Para além da dificuldade de se medir o tempo de exposição, hábitos com uso de fones de ouvido, ou conexões do aparelho com computadores de mesa, afastam o celular do corpo, tornando ainda mais complexa a avaliação dos possíveis efeitos deletérios, como um possível aumento da incidência de tumores. 

Uma coisa é certa, o celular, desde sua  estreia em nossas vidas na década de 1990 é hoje o protagonista dos acessórios, a ponto de algumas vezes até parecer uma extensão do nosso corpo. 

Um estudo prospectivo publicado recentemente na revista Enviroment International, o COSMOS, Cohort Study of Mobile Phone Use and Health, concluiu que o uso cumulativo de celulares não está relacionado com o risco de desenvolvimentos de tumores cerebrais como gliomas, meningeomas e neuromas.  




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O Desafio do Ensino da Neurocirurgia- Parte 3

 

A sistematização do ensino na Residência/especialização em neurocirurgia ao longo dos cinco anos do programa não passa de um primeiro passo.

Como ensinar uma especialidade de grande demanda técnica e teórica? 

Abrir uma cabeça ou uma coluna não é tarefa fácil; lidar com a patologia é um desafio ainda maior. a reconstrução é sempre desafiadora e  o pós operatório exige cuidados intensivos especializados. 

O residente tem que compreender e dominar cada uma dessas etapas do procedimento neurocirúrgico. Negligenciar pormenores da técnica pode ser o divisor entre bom e o mau resultado de um procedimento neurocirúrgico. 

No passado, a gravidade das doenças neurocirúrgicas e a limitação dos métodos de imagem agiam com um véu, encobrindo imperícias. Hoje, conhecemos mais sobre a história natural das patologias neurocirúrgicas e podemos documentar melhor os procedimentos. 

Nem sempre é fácil distinguir uma complicação inevitável de uma imperícia que resulta em evento adverso para o paciente. 

Não resta dúvida que o mote aristotélico, citado na epígrafe dessa série de artigos sobre o ensino da neurocirurgia, é a única saída. Não há outro modo de aprender a especialidade senão praticando-a ao lado de um profissional já previamente treinado. 

A Sociedade Brasileira de Neurocirurgia exige que num programa credenciado tenha no mínimo cinco especialistas titulados. Espera-se que esses especialistas estejam lado a lado com os residentes, ensinando a especialidade com os rigores de seus detalhes.  Sobretudo, espera-se que ele consiga ensinar com evitar seus próprios erros, pois aprendemos mais com eles do que com os acertos. Mas aprender com os erros dos outros é ainda melhor na construção do conhecimento, que assim vai passando de uma mão à outra: do titulado para o R5, deste para o R4 e assim por diante. 

Mas se para aprender tenho que fazer, como fica o paciente nessa história? 

Lembro-me bem de um caso que era contado sempre à boca pequena, a respeito de um professor muito conceituado. Ele foi prestar concurso para ser admitido como neurocirurgião em uma Instituição, que exigia que ele fizesse um procedimento neurocirúrgico. Deveria demonstrar para uma banca seus conhecimentos e sua técnica. Era um procedimento considerado simples, uma hérnia de disco lombar. Houve uma complicação grave, uma lesão vascular que levou o paciente ao óbito. Felizmente, esse tipo de concurso não é mais realizado. E o caso em questão, deixou de ser um segredo quando o próprio cirurgião contou sua experiência em um congresso da especialidade, dando aula para seus pares. 

A realização de procedimentos mais simples pode ser aprendida e ensinada de mão em mão. Á medida que o residente vai dominado as praxias, ele adquire a competência necessária. O aprendizado de procedimentos mais complexos exige uma abordagem diferente. 

O treinamento em cadáveres em laboratório especializado é a forma mais adequada. 

Trabalhamos em um desses laboratórios, na Universidade George Washington, onde dispunha de todo o arsenal neurocirúrgico e cabeças especialmente preparadas para similar os procedimentos complexos. Os residentes tinham oportunidade de verem replicados no laboratório o passo a passo dos procedimentos realizados no bloco. 

No próximo artigo, vamos falar mais sobre esse modelo de ensino, que consideramos   ideal para o aprendizado de técnicas cirúrgicas complexas, como é o caso da maioria dos procedimentos neurocirúrgicos. 

 

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